São Paulo – Já era passado das dez da manhã de domingo, 11 de novembro. Os desenvolvedores estavam completamente exaustos. Latas vazias de bebidas energéticas pontuavam a mesa, seus olhos cansados fixos em telas brilhantes que exibiam linhas intermináveis de código. Restavam apenas 50 minutos para o prazo final de entrega dos projetos, enquanto a música “Should I Stay or Should I Go” do Clash ressoava alto pelas caixas de som. Era hora de abrir mais uma lata de energético.
Esse foi o ápice do hackathon promovido pela empresa californiana Evernote em São Paulo, um evento de programação intensiva comum no Vale do Silício. A maratona começou às 9h do sábado, quando 100 participantes se reuniram no espaço da aceleradora Wayra. O local, com vista para a margem do Rio Pinheiros, ocupava 1.200 metros quadrados e tinha o típico visual de um escritório de startup. As paredes estavam decoradas com citações inspiradoras, as mesas eram de formato aberto, e havia uma cozinha compartilhada.
A maioria dos inscritos representava universidades paulistas, incluindo a USP, Unicamp e o ITA. Eram programadores, designers e todos os tipos de curiosos dispostos a se aventurar. Seu desafio era criar, a partir do zero, um aplicativo para Android – para smartphones e tablets – utilizando a plataforma Evernote. Essa plataforma permitia aos usuários fazer anotações e manter listas de tarefas.
Amigos da USP, Bruno Lemos, Caio Cesar Flores e Maurício Giordano, todos no primeiro ano, já haviam participado de uma maratona antes de chegarem a essa competição. Eles embarcaram em um ônibus em Piracicaba às 5h30 e chegaram ao Terminal Tietê às 7h30. Dali, pegaram o metrô até a estação Conceição e, em seguida, embarcaram em outro transporte. Chegaram à Wayra às 9h20, poucos minutos antes do encerramento das inscrições. Flores comentou: “Vale pela experiência.”
Naquela noite, eles conseguiram apenas duas horas de sono, e não fecharam os olhos até a competição terminar. No entanto, foram recebidos no café da manhã por uma abundância de comida. No mezanino, uma mesa estava repleta de sucos, refrigerantes, pães de queijo, bolos e petiscos. E em uma geladeira no térreo, havia cerveja e mais bebidas energéticas.
O hackathon realmente começou pouco antes das 11h, após explicações técnicas fornecidas pela equipe da Evernote sobre o ambiente de desenvolvimento. Os times então se concentraram em seus notebooks e folhas de rascunho intermináveis para iniciar seus projetos. As canetas tinham múltiplas funções nas mãos dos participantes – rabiscando ideias de interface, servindo de mordedores ou malabares para aliviar a tensão, e arranhando a cabeça quando as soluções não vinham.
“Para nós, o objetivo principal é conhecer a comunidade brasileira de desenvolvedores”, disse Luis Samra, gerente da Evernote para a América Latina. “Queremos unir talentos, então essa é uma oportunidade única.” Entre os projetos desenvolvidos, havia um aplicativo que facilitava o armazenamento de ingressos digitais para cinema e eventos. Outro aplicativo registrava rotas de caminhadas, funcionando como um diário de exercícios.
Quando a noite caiu, pizzas foram encomendadas para o jantar. Aqueles que precisavam de tempo para digerir podiam relaxar em pufes ou em redes instaladas no mezanino. Além disso, uma mesa de pingue-pongue e sacos de pancada estavam disponíveis para momentos de descontração ou para aliviar a tensão entre as equipes. Esse espaço ficou mais movimentado durante a madrugada, à medida que os participantes desistiam de manter os olhos abertos, nem que fosse por uma ou duas horas. Colchões infláveis ao lado das mesas serviram de cama improvisada. Desenvolvedores cochilavam com a cabeça apoiada nas mochilas.
Finalmente, às 11h do domingo, o prazo para inscrição dos projetos se encerrou. No entanto, começou outro momento crucial da jornada: apresentar, em inglês, as criações para a equipe da Evernote. Foram realizadas 20 apresentações. Alguns protótipos tiveram problemas de funcionamento, outros enfrentaram questões menores e uma equipe simplesmente pegou o microfone para anunciar que não conseguiu implementar sua ideia, mas que ainda assim a experiência tinha valido a pena.
Os criadores de um aplicativo chamado Epicnote foram os vencedores. O aplicativo incentivava os usuários a interagirem com o programa por meio de medalhas virtuais, seguindo um sistema semelhante ao do Foursquare. Os membros da equipe foram premiados com duas viagens para visitar o escritório da empresa no Vale do Silício. Ian Faria, um dos membros da equipe, comentou: “Toda maratona é muito intensa.” Eles já haviam participado de oito eventos desse tipo.
Ao final do hackathon, mesmo aqueles que não ganharam prêmios estavam otimistas. Os times se reuniram em volta da geladeira, ainda repleta de cerveja, para trocar ideias e contatos. Alguns deles nunca tinham programado para Android, mas ainda assim conseguiram aprender o suficiente a tempo para desenvolver pelo menos um protótipo de aplicativo.
O trio de Piracicaba não saiu vitorioso. Enfrentaram problemas na apresentação e o programa deles não funcionou conforme o esperado. No entanto, nenhum deles reclamava de ter passado tanto tempo acordado e trabalhando incansavelmente. Estavam prontos para voltar para casa e aproveitar o resto do domingo descansando um pouco.